CASTRO, J. C. L. Da lógica editorial à lógica algorítmica da notícia Conexão — Comunicação e Cultura, Caxias do Sul (RS), v. 18, n. 36, p. 36–56, julho/dezembro de 2019.
A proposta deste artigo de articulação teórica, apoiado em pesquisa bibliográfica, é rastrear o impacto dos algoritmos na notícia. Argumenta-se que, sob a lógica algorítmica, se tornam porosas as fronteiras entre os que se especializam na atividade noticiosa e os demais, entre o que é notícia ou não, e entre notícias de distintos tópicos e graus de importância. Essa flexibilização da notícia, analisada sob as rubricas de distribuição, negócio, filtragem e produção, é relacionada ao enfraquecimento do papel de mediação exercido habitualmente pelo jornalismo com base em parâmetros editoriais, como valores-notícia e critérios normativos, ao mesmo tempo que ganham força mecanismos algorítmicos de mediação, sobretudo via plataformas. / The purpose of this article of theoretical articulation, underpinned by bibliographic research, is to track the impact of algorithms on news. It is argued that, under algorithmic logic, the boundaries between those who specialize in dealing with news and everyone else, between what is news and what is not, and between news on different topics and with different degrees of importance have become increasingly porous. …
If Marx calls attention to the relations behind the appearance of the commodity, Benjamin highlights a different aspect of commodity fetishism: the commodity as spectacle, for instance in arcades, universal expositions, and department stores. This spectacle relates to the one provided first by protocinematic dispositifs (such as the diorama, the panorama, the kaleidoscope) and then by the cinema. Throughout the twentieth century, the consumer and the cinematic dimensions of the spectacle attain even more integration, as Debord makes evident in his analysis (which he, fittingly, unfolds in film) of the society of spectacle. Movies, as we know, are commodities themselves. Both commodities in general and movie images appeal to the public through the mediation of specialized people, who may trade places sometimes: advertisers and models on the one hand, directors and actors on the other. In both consumption and cinema, the desire of the public is molded by the spectacle. Cinema can promote a lifestyle linked to consumer goods, like the American suburban life in the second post-war, or promote some goods in particular, like what was done with cigarettes for decades. …
O resultado da última eleição presidencial no Brasil insere-se numa inflexão hiperautoritária do neoliberalismo em escala global, a partir especialmente do referendo do Brexit e da vitória de Trump. No âmbito nacional, ele coroa o processo de crise simultânea da Nova República e do lulismo, que se desdobra em diversas etapas: as Jornadas de Junho, em 2013; a Lava Jato, a partir de 2014; o golpe parlamentar-judicial contra Dilma Rousseff, em 2016; e a campanha de Jair Bolsonaro, em 2018. Tais etapas podem ser consideradas episódios de guerra híbrida, modalidade de luta política que aprofunda o componente de desestabilização característico do neoliberalismo. …
Este artigo de articulação teórica, baseado em pesquisa bibliográfica, aborda a relação entre controle e agência em plataformas algorítmicas. O controle envolve a coleta e a análise de dados a partir das atividades e interações dos usuários, com o desígnio de discernir padrões e tendências, o que permite antecipar e direcionar comportamentos, correspondendo assim a um aparato de vigilância intensiva e permanente. Ao mesmo tempo, cada usuário possui certo nível de agência, podendo, ao alterar seu curso de ação, influenciar a maneira como ele é apreendido e, portanto, interpelado pela plataforma. …
Guerra híbrida é tomada aqui como uma modalidade contemporânea de luta política baseada na desestabilização permanente, podendo apresentar-se como organizada horizontalmente ou comandada a partir de uma máquina de guerra. Este artigo de reflexão teórica, apoiado em pesquisa bibliográfica, propõe-se a analisar o estatuto e a atuação de máquinas de guerra híbrida em plataformas algorítmicas. Tais máquinas caracterizam-se pela excentricidade em relação à governança exercida pelas corporações nas plataformas. Elas tendem a reforçar a predisposição dos algoritmos à desinformação, o que contribui para a polarização assimétrica. Esta, por seu turno, envolve o posicionamento militante.
CASTRO, J. C. L. Máquinas de guerra híbrida em plataformas algorítmicas. E-Compós, Brasília (DF), v. 23, p. 1–29, 2020.
Este trabalho pretende explorar interseções entre a economia política e a economia psíquica do neoliberalismo. O projeto neoliberal leva às últimas consequências a concepção de homo œconomicus do utilitarismo e a amoralidade nela impressa pelo marginalismo. Para Foucault, a teoria neoliberal do capital humano tende a tornar o próprio sujeito um “empreendedor de si mesmo”. Incentiva-se o investimento em si, que incide sobre atributos físicos, psíquicos e intelectuais e se vale das técnicas de si, identificadas posteriormente por Foucault em seu estudo da cultura antiga. Sob o neoliberalismo, contudo, esse investimento não tem limites, podendo chegar por exemplo à eugenia; assim, o principal elemento crítico da análise de Foucault reside na identificação de um novo regime social de controle, baseado não na contenção (como no regime disciplinar clássico) mas na incitação, aproximando-se da ultra-subjetivação, em Laval e Dardot, e do culto à performance, em Ehrenberg. A injunção de performance característica do neoliberalismo articula-se ao imperativo do gozo, identificado por Lacan, nos mundos da produção e do consumo e na dinâmica geral do empreendedorismo neoliberal. Em diversas áreas, a busca de performance representa em si mesma uma fonte de gozo. Adicionalmente, a performance pode ter caráter instrumental, no sentido de viabilizar o gozo. …
Este trabalho de articulação teórica, ancorado em pesquisa bibliográfica, considera como plataformas algorítmicas as redes de acesso controlado nas quais o usuário é governado via algoritmos e sua identidade é redefinida continuamente com base em dados fornecidos por ele ou extraídos de sua atividade. Para entender as circunstâncias em torno da interação do usuário com essas plataformas, o artigo propõe e desenvolve categorias que adaptam e reformulam elementos conceituais de diversas origens. A interpelação refere-se à abordagem do usuário pelo algoritmo, que é recalibrada a cada iteração e cuja agência pode distribuir-se em instâncias de alteridade representadas pelo algoritmo ou por outros atores. Tal abordagem opera por meio da definição ad hoc de perfis a partir da combinação de traços do usuário, o perfilamento. …
The typical way in which contemporary society, associated with neoliberalism, is managed can be characterized as algorithmic governance. Social networks like Facebook are taken as a model for the operation of this type of governance. To comprehend its dynamics, algorithmic governance is examined in three fundamental dimensions. The first is the relational dimension: the individual is fragmented in his digital traces, which are recombined in multiple relationships. From there, the vectorial dimension unfolds: these relationships are oriented, capturing trends and embedding projections about the future. Finally, this orientation originates the agential dimension, playing the roles of amplifying the affinities and containing the differences.
CASTRO, J. C. L. Social networks as a model of algorithmic governance. Matrizes, São Paulo (SP), v. 12, n. 2, p. 165–191, May/August 2018.
O modo de gestão do social típico da contemporaneidade, associado ao neoliberalismo, pode ser caracterizado como governança algorítmica. As redes sociais, como o Facebook,são tomadas como modelo de seu funcionamento. E, para apreender sua dinâmica, a governança algorítmica éexaminada em três dimensões fundamentais. A primeira é a dimensão relacional: o indivíduo é fragmentado em seus traços digitais, os quais são recombinados em múltiplas relações. A partir daí se desdobra a dimensão vetorial: tais relações são orientadas, captando tendências e embutindo projeções sobre o futuro. Por fim, essa orientação deslancha a dimensão agenciadora, desempenhando os papéis de amplificação de afinidades e contenção de diferenças.
CASTRO, J. C. L. Redes sociais como modelo de governança algorítmica. Matrizes, São Paulo (SP), v. 12, n. 2, p. 165–191, maio/agosto de 2018.
Na contemporaneidade, assistimos a uma mutação do simbólico, com a emergência do Outro algorítmico. Há uma pluralização dos significantes-mestres (S1 como essaim, enxame), dos Nomes-do-Pai, das versões do pai (père-versions). Essa multiplicidade mina o caráter absoluto do Outro, de modo que este desaparece enquanto tal — o Outro algorítmico de nossa época é, na verdade, o Outro que não existe. Na configuração simbólica atual, a lei, enunciada de um lugar exterior, transcendente, cede espaço à norma, que tem algo de imanente, variando de acordo com o sujeito e as circunstâncias. Não é difícil constatar isso ao observarmos o exercício da função paterna hoje. Verifica-se cada vez mais uma espécie de democratização das relações familiares, uma tendência à negociação permanente entre pais e filhos, que engendra certos protocolos de comportamento. Aí residem a convergência e a divergência entre a perversione a père-version: na primeira a lei customizada é fixada escrupulosamente em seus mínimos detalhes, sempre reencenados, enquanto na segunda se trata de um arranjo flexível. O pai que diz “não” e “sim” é substituído agora pelo pai que diz “depende”. Em alguma medida, a autoridade é transferida do enunciador da lei para as normas em si, aparentemente neutras; são elas doravante os parâmetros aos quais o pai e a criança se referem, como as partes equivalentes de um contrato. …
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