Sujeito neoliberal: entre performance e gozo (Neoliberal subject: between performance and enjoyment)

Julio Cesar Lemes de Castro
2 min readMay 13, 2020

Este trabalho pretende explorar interseções entre a economia política e a economia psíquica do neoliberalismo. O projeto neoliberal leva às últimas consequências a concepção de homo œconomicus do utilitarismo e a amoralidade nela impressa pelo marginalismo. Para Foucault, a teoria neoliberal do capital humano tende a tornar o próprio sujeito um “empreendedor de si mesmo”. Incentiva-se o investimento em si, que incide sobre atributos físicos, psíquicos e intelectuais e se vale das técnicas de si, identificadas posteriormente por Foucault em seu estudo da cultura antiga. Sob o neoliberalismo, contudo, esse investimento não tem limites, podendo chegar por exemplo à eugenia; assim, o principal elemento crítico da análise de Foucault reside na identificação de um novo regime social de controle, baseado não na contenção (como no regime disciplinar clássico) mas na incitação, aproximando-se da ultra-subjetivação, em Laval e Dardot, e do culto à performance, em Ehrenberg. A injunção de performance característica do neoliberalismo articula-se ao imperativo do gozo, identificado por Lacan, nos mundos da produção e do consumo e na dinâmica geral do empreendedorismo neoliberal. Em diversas áreas, a busca de performance representa em si mesma uma fonte de gozo. Adicionalmente, a performance pode ter caráter instrumental, no sentido de viabilizar o gozo. Simetricamente, o imperativo do gozo pode ser concebido em termos de desempenho, na medida em que se idealiza e se mede o grau de felicidade e satisfação.

CASTRO, J. C. L. Sujeito neoliberal: entre performance e gozo. In: PANSARELLI, D. et al. (orgs.). Gênero, psicanálise, filosofia na América Latina, filosofia da libertação e pensamento descolonial. São Paulo (SP): ANPOF, 2019, p. 119–127.

http://www.jclcastro.com.br/downloads/Julio_Cesar_Lemes_de_Castro_-_Sujeito_neoliberal_-_entre_performance_e_gozo.pdf

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Julio Cesar Lemes de Castro

Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), com pós-doutorados em Psicologia Social (USP), Comunicação e Cultura (UFRJ) e Comunicação e Cultura (Uniso).